23 August 2012

Good-bye to a good friend

A good friend and fadista from Portugal, José Maria Fernandes, died very recently. I wrote this short piece about him, our friendship, and the fado. I'm going to try to find time to translate it, but in the meantime (knowing that some of you speak Portuguese), here it is (text is taken from my other blog, http://fado-hoje.blogspot.com).


Venho por aqui falar de um grande amigo e fadista, José Maria Fernandes, que faleceu há uma semana. A nossa amizade foi criada juntamente com o fado, ou talvez seja melhor dizer que quanto mais que conhecíamos, mais que compreendi sobre o fado e a bondade que pode ser criado dentro do âmbito fadista. Quando vim com a minha família à Lisboa há alguns anos--sem saber nada do fado actual--foi ele que me introduziu ao mundo fadista que agora faz parte imutável da minha vida.

Na altura quando lá vivíamos, frequentávamos a Baiuca em Alfama. Pouco a pouco, eu ia conversando com os fadistas, os músicos e as outras pessoas que por ali passavam. Gostei de ouvir o José Maria cantar, mesmo que os clientes conversassem tanto durante o fado. O José Maria cantava os clássicos, os fados associados com os fadistas que ele apreciava mas que se encontrou fora da moda, como o Fernando Farinha ou o Tony de Matos. Ele cantava de amor e de solidão. Era romântico, sem desculpas.

Comigo não queria falar da sua vida privada. Um dia perguntei-lhe" "Aonde trabalha?" Respondeu enigmaticamente: "Trabalhava em Alcântara..." Percebeu perfeitamente o que eu tinha perguntado, mas não queria entrar no assunto, nem me ofender. Para muito tempo, só sabia que era "da outra banda."

Ele vadiava de casa em casa em Alfama, uns dias por semana. Encontrei-o muitas vezes na Baiuca, e anos depois também frequentava o Sr. Fado. Como muitos outros fadistas, não queria ganhar dinheiro, só queria era cantar e conversar com amigos durante os intervalos ou quando esperava por sua vez. Fomos uma vez a um território distante–a Graça–para visitar a Tasca do Jaime. Pôs-se em pé, introduziu-se com humildade, agradeceu a dona, depois cantou dois fados do coração. Gostou, mas percebi que o seu povo, e os seus lugares de hábito, eram todos de Alfama. Por outro lado, sempre ia conosco por qualquer lado: às outras casas de Alfama, à Mouraria.

A manter a ordem à porta da Baiuca

Uma vez telefonei-o, e atendeu ao telefone bruscamente, como sempre. "Ó Zé, aonde está?" Estava na casa do Sr. Henrique, no sul do país. "A fazer o que?" perguntei eu. A ajudar nisto ou naquilo, depois ele ia regressar à noite para trabalhar no dia seguinte. Outras vezes, estava indo para Angola. Sempre a vadiar...

Queria que nos fôssemos portugueses: eu, a minha esposa, e os meus filhos. Ajudou-me com a burocracia portuguesa, inventou planos fantásticos para que eu conseguisse manter uma presença permanente em Portugal ("compre um apartamento", "troque o seu trabalho", etc.). Fizemos percursos de pê e de carro por várias zonas de cidade. Não era jovem, mas andou sempre velozmente, cheio de vontade para chegar.

Uma vez que visitamos Lisboa, queria buscá-nos no aeroporto. Disse-me que tinha um carro que servia.  Não acreditava. "Cabe, cabe. Não se preocupe", respondeu o meu amigo. Chegou com um Citroën antiquíssimo, que não foi nada grande. Mas ele não queria saber nada das minha dúvidas. De uma magia qualquer, conseguiu meter tudo lá dentro--cinco pessoas e todas as malas. Depois da visita, ao regressar ao aeroporto, ofereceu-me uma caixa de discos do fado. Não o queria, mas disse "Trago sempre uma commigo, e vou dando-a quando me apetecer, depois compro mais uma." Assim, o fado e ele andava sempre a par.

Quando eu estava fora de Portugal, telefonava-o por Skype, e por isso ele não reconhecia o número. Quando atendeu ao telefone, dizia "Alô", duma maneira brusca, que transmitiu uma mensagem clara: "Como é que vais explicar esta intrusão?" Eu respondia, "Ó José Maria, é David Mendonça." "Ó David, como está amigo!" E depois era tudo alegria. Mesmo na rua, eu nem sempre percebia quando ele sentia pró ou contra alguém, pois resmungava à frente de todos.

Na Tasca do Jaime

O José Maria vivia com o fado sempre no peito. Quando falávamos, às vezes exprimia os seus sentimentos em termos fadista, sem pretensões e como se fosse a sua própria linguagem. Queria ensinar-me toda a história do fado que conhecia, a qual assisti com toda a minha atenção. Introduziu-me ao mundo ocupado por aquelas pessoas que vivem para o fado, e não através do fado. O fado do José Maria era um fado puro, que refletia uma sensibilidade profundamente humana, cheia de honestidade, e que não aceitou a falsidade.

A última vez que o vi foi recentemente. Estávamos em Lisboa para uma curta visita. Já tinha percebido que não estava bem. Falamos brevemente por telefone, mas foi preciso confirmar os pormenores com a filha dele. (Logo descobri que ele sofreu bastante só para lá chegar.) Estava sentado à porta da Baiuca, com muitos amigos ao seu redor. "Vou cantar" disse ele. A filha protestou, também eu. "Quero." Pediu desculpas da minha esposa por não ser capaz de cantar "Leio em teus olhos", que sempre cantava para ela. Ia cantar outra coisa, então pôs-se de pé. Num instante, a Baiuca e tudo que não era o meu amigo evaporou. Cantou "Senhora da Nazaré" do fundo da alma, com toda a força da vida, com muito mais força do que o corpo tinha. Depois saiu subitamente: estava gasto. Depois falamos para uns minutos, mas foi a última vez que o vi. Era tudo pelo fado, e tudo por amizade.

21 August 2012

Backlinks...

For about the past year, two news outlets--the Luso-Americano and the Portuguese-American Journal--have been publishing some of my writing about the fado (and, occasionally, other Portuguese-related themes). Both have mentioned this fado blog, as well as the one I write in Portuguese. So, it's only fair that I say a bit about each of them!



The Luso-Americano is a Portuguese language print newspaper, founded in 1928 and published in Newark, New Jersey.  With the widest print distribution of any Portuguese-language newspaper in the USA, it covers Portuguese and Portugese-American news items. Lately, the journalist Ricky Durães has been writing some great stuff about the fado, particularly in the NY metro area, covering many of the area's larger and smaller fado performances and related events. Indeed, the Luso-Americano is probably the first best place to look for news and upcoming events on the fado (and other Portuguese music) along the east coast. For example, did you know that Ana Moura is coming to Durham, North Carolina on 29 March 2013, or that Deolinda will be in Chicago on 24 September?

I should also note that, in addition to news, the Luso-Americano publishes various essays and opinion pieces. These include an excellent, very long-running series written by Ferreira Moreno, centered on Portuguese culture and folklore. The paper also has an English language section. You can subscribe to receive it by post, or read a slightly delayed copy online. I am currently working on a Portuguese-language essay for them on the topic of contemporary poets and the fado.


The Portuguese-American Journal is a fairly recent endeavor, published in English. The journal is "dedicated to the Portuguese-American heritage with the purpose of informing and offering an insight into the Portuguese-American experience."Its editorial scope is broad, with new articles published frequently. It's available through Google News feed, as well as through its own web site. The most recent article I wrote for them is a review of Sandra Correia's new album, "Ao Vivo".

11 August 2012

More on "Fado&Piano"


Here's a very informative comment on the latest Maria Ana Bobone record, written by one of the readers of this blog, Aldemar Fernandes Parola. (Note: version in Portuguese is below.) I hope you enjoy it!

'In my opinion fado for voice and piano is not a new hypotesis. What is new in “Fado & Piano” is the fact that Maria Ana Bobone plays piano and sings simultaneously. Few singers have the knowledge, the ability and the art to play piano and sing simultaneously. Since fado and the majority of the portuguese traditional songs are a kind of ritual music, transmiting feelings and emotions, the control of the cadence is extremely important and to have control on the cadence nothing better than to have one person playing and singing.

'Piano was already used in her second CD, “Senhora da Lapa” as an accompaniment for the majority of the tracks but it was played by João Paulo, another virtuoso, composer of the beautiful melody of “Senhora da Lapa” score.

'In the first CD of Maria Ana Bobone, named “Luz Destino”, published in 1996, which was more audacious than “Fado & Piano” due to the arrangements with a barroque sonority made by Ricardo Rocha, she was accompanied at the harpsichord by João Paulo, at the portuguese guitar by Ricardo Rocha himself and in some scores at the contrabass by Mário Franco.

'May be “Fado & Piano” will be more popular than the previous CDs because at first sight it looks less sophisticated. But in my opinion this is not true. In spite of sophistication and simplicity being considered as opposed, all Maria Ana's CDs, including “Fado & Piano, are simultaneously simple and sophisticated. Is there something simpler than fado and piano? On the contrary is there something more sohisticated than voice conveing both excitement and joy in a quiet way accompanied on the piano with a harmonious arrangement ? Schubert's “lieder” are certainly good examples of the combination of simplicity and sophistication and I believe “Fado & Piano” is also another good example.'

--Aldemar Fernandes Parola

Versão em português: Na minha opinião fado para voz e piano não é uma hipótese nova. O que há de novo no "Fado & Piano" é o fato de Maria Ana Bobone tocar piano e cantar ao mesmo tempo. Poucos cantores têm o conhecimento, a habilidade e a a
rte de tocar piano e cantar simultaneamente. Como o fado e a maioria das canções tradicionais portuguesas são um tipo de música ritual, transmitindo sentimentos e emoções, o controle da cadência é extremamente importante e para ter o controle sobre a cadência nada melhor do que ter uma pessoa tocando e cantando.

Piano já foi usado como acompanhamento em seu segundo CD, "Senhora da Lapa" tendo sido interpretado por João Paulo, outro virtuoso, compositor da bela melodia da canção "Senhora da Lapa".

No primeiro CD de Maria Ana Bobone, chamado "Luz Destino", publicado em 1996, que foi mais audacioso do que o "Fado e Piano", devido aos arranjos com sonoridade barroca feitos por Ricardo Rocha, ela foi acompanhado ao cravo por João Paulo, à guitarra portuguesa pelo próprio Ricardo Rocha e em algumas das canções por Mário Franco ao contrabaixo.

O CD Fado & Piano de Maria Ana Bobone certamente será mais popular dos que os anteriores por uma única razão: aparenta ser menos sofisticado. Mas, na minha opinião isso não é verdade. Embora sofisticação e simplicidade sejam considerados como opostos, todos os CDs de Maria Ana, incluindo "Fado & Piano, são ao mesmo tempo simples e sofisticados. Existe algo mais simples do que voz acompanhada ao piano? Haverá algo mais sofisticado do que a voz transmitindo tanto emoção como alegria de uma forma serena acompanhada ao piano com um arranjo harmonioso? Os "Lieder" de Schubert são certamente bons exemplos da combinação de simplicidade e sofisticação e eu acredito que "Fado e Piano" também é outro bom exemplo.